Toda vez que alguma HQ underground é adaptada para o cinema ou para a TV surge algum fã chato dizendo que sempre gostou do tal material , e que de cara vai reclamar de qualquer mudança feita na transposição de mídia - eu já fui idiota desse jeito , sempre tive um egoísmo preocupante com as coisas que gosto , e com Preacher não foi diferente , lembro da primeira vez que tive contato com o quadrinho ; estava na sala de aula resolvendo algum exercício e de repente me deparo com um colega meu de turma com uma capa diferente em seu caderno , era uma ilustração horrivelmente bela , cheia de traços realistas que deixavam tudo muito grotesco , mas inegavelmente fascinante , o tipo de arte que eu colocaria na parede da minha sala.
(Uma das incríveis artes desenhadas por Glenn Fabry.)
Tempos depois , na minha fase adolescente ; eu lembrei do tal quadrinho que tinha visto quando mais jovem , sem nenhum real no bolso fiz o óbvio : baixei os scans na internet e instantaneamente me tornei fã de Garth Ennis e suas escrotices ; Preacher era uma mistura de todos os gêneros que eu gostava na época , parecia ser uma história ambientada no universo dos filmes do Tarantino (Um Drink No Inferno para ser mais especifico), com pitadas de Western Spaghetti e outras bizarrices que só o Ennis seria capaz de escrever em uma época que os quadrinhos sofreram devido ao sucesso de HQ's como Watchmen e O Cavaleiro das Trevas fizeram nos anos 80, algo que repercutiu nos anos 90 , já que toda editora pensava que os quadrinhos tinham que ser massaveio( termo criado pelos integrantes do site Mdm).
Mas enfim , chega desse melodrama , acho que consegui explicar o quanto Preacher é importante para mim , o negocio é que faz tempo que Preacher tenta ser adaptado para Live Action , inúmeros foram os diretores que demonstravam interesse no material , nomes como Sam Mendes e Dj Caruso chegaram a ser cogitados , mas no final Seth Rogen acabou ganhando já que mencionava o tempo todo que tinha interesse em adaptar o projeto. A ideia de levar Preacher para a Tv é algo bem vindo , é uma história longa para contar , ficaria muita coisa de fora caso fosse adaptado para o cinema , mas com um seriado tem tempo para tudo , cada personagem e cada arco narrativo pode ser mostrado com calma. O canal AMC já tinha trazido outra quadrinho para a TV , Walking Dead teve um episódio piloto brilhante realizado por Frank Darabont , pena que o diretor foi afastado do seriado devido a sua demora para idealizar os episódios .
Preacher já começa de maneira satisfatória ao usar o episódio piloto para situar os personagens , mostrar o universo que se ambienta e prender a atenção do publico novato que não conhece a fonte original . Rogen e seu parceiro de longa data Evan Goldberg adotam uma ideia semelhante aos prequels , mostrando o passado dos personagens antes mesmo de Jesse (Dominic Cooper) ganhar seus poderes. Sem medo de ser violento ou ate mesmo ofensivo , um dos grandes méritos desse primeiro episódio é seguir a mesmo linha de humor negro utilizada por Ennis nos quadrinhos , pena que em certos momentos Rogen e Goldberg não consigam criar um equilíbrio no tom do episódio , já que em alguns instantes o episódio tenta ser realista ao usar filtros de sépia na fotografia e no trabalho de correção de cores , criando uma atmosfera pretensiosa de filme de western que infelizmente não combina na história. Mas de resto , os fãs vão ficar satisfeitos , tendo em vista que a alma de alguns personagens foi mantida , certamente todos vão abrir um sorriso quando presenciarem Cassidy (Joseph Gilgun) pela primeira vez , o vampiro irlandês pode não ser muito parecido com as ilustrações de Steve Dillon , porem , toda sua personalidade é preservada. Dominic cooper também segue com segurança no papel de Jesse Custer , conseguindo transparecer a insatisfação do padre ao exibir olhares de tédio ou desinteresse ao demonstrar que não pertence aquele lugar , pena que o mesmo não possa ser dito a respeito da atriz Ruth Negga ; além de forçar um sotaque de redneck meio falso e forçado , sua personagem em nada se parece com os quadrinhos , tanto em aparência física quanto em personalidade , no material fonte , Tulipa é uma moça forte e sobrevivente , não essa poser de bad ass que foi mostrada no seriado , um pecado grave em um show que tinha acertado em quase tudo .
E o cara de cu ?! Bem , a solução que o mestre das maquiagens prostéticas Greg Nicoteiro encontrou é bastante plausível , não é repulsiva como nos quadrinhos , entretanto, funciona perfeitamente em tela ,e o fato do personagem conhecer Jesse talvez possa adicionar mais conflito no desenrolar da história.
Fato é que o primeiro episódio é bem acima da média , e talvez algo muito bom esteja por vir , Preacher possui uma história rica e bem controversa , é bom saber que os realizadores não vão se esquivar desses temas.
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