Hulk do Ang Lee , um filme subestimado

No inicio do seculo 21 o cinema se tornou palco da explosão dos  filmes de adaptações de quadrinhos , X-Men havia mostrado para os estúdios como era lucrativo investir nas aventuras de super-heróis , e Homem Aranha solidificou de vez o gênero , o que acabou gerando a curiosidade do fãs em relação aos futuros filmes que viriam em seguida. Então o estúdio Universal apostou em um grande personagem que ficou famoso devido ao seriado no final do anos 70 , o gigante esmeralda já estava fora das telonas desde de 1990 e esse novo filme daria uma repaginada no universo dele , porem é ai que entra a polêmica , porque ao invés de apostarem em um diretor de aluguel , o estúdio optou por contratar Ang Lee , um diretor autoral chines que trabalhou em filmes de dramas familiares e que talvez tenha sido esse o motivo para ter ingressado nesse projeto , já que uma das tramas centrais do filme é a problemática relação entre pai e filho  , já que ambos os personagens Betty Ross (Jennifer Connelly Linda !) e Bruce Banner compartilham esses impasses .

Ate a origem do personagem foi alterada , não é só a radiação gama , o personagem já herda os traços genéticos de seu pai David Banner (Nick Nolte ) que havia injetado em si mesmo um soro que seria capaz de regenerar tecidos lesionados ou feridos , uma espécie de fator de cura , mas a experiência não dá certo ate que um dia o cientista Bruce que trabalha em um laboratório na faculdade é exposto a radiação gama  e que graças aos nanomeds , ele se livra da morte. Mas toda vez que ele é submetido a uma situação estressante ele se transforma em um monstro verde de força implacável que pode por em risco a vida de milhares de pessoas . O roteiro do filme é muito bem podado , ao invés de investir a trama em cenas de ação , o foco principal é o relacionamento desses personagens com seus pais , o pai de Betty , o General Ross (Sam Elliot, ótimo) é imagem máxima do controle ate porque ele é um militar e pai de Bruce , é uma versão enlouquecida do já foi o pai dele um dia , e aqui Nick Nolte merece aplausos ao encarnar o cientista David Banner de maneira bem insana abusando de tiques nervosos que mostram sua inquietação e descontrole .Todo o elenco do filme é bem dirigido , o único defeito talvez seja Eric Bana , não que ele seja um ator ruim , mas teria sido melhor ter escalado um ator franzino para interpretar o cientista o que iria reforçar o choque visual na hora da transformação.

Como a produção ficou a cargo de Gale Anne Hurd ,todos os cenários do filme são bem caprichados , e ainda conta com belíssimas locações com direito a uma cidade de teste nuclear abandonada no meio de deserto .Porem vou falar do ponto mais critico do filme ,o CGI do Hulk , é claro que criar um bicho daquele tamanho em tela iria soar falso , por exemplo , muitos elogiam a computação gráfica de Jurassic Park sempre falando que os efeitos envelheceram muito bem , mas isso se deve ao fator de que nunca vimos um dinossauro na vida real , não temos referencia de como andavam ou se comportavam , já em Hulk temos um ser humano gigante em tela , é claro que iriamos perceber a artificialidade da criatura , entretanto ainda considero um trabalho bem detalhado de CGI , ver o monstro correndo e saltando no meio do deserto é de encher os olhos. E também é muito divertido ver que todo o poder militar não é páreo para o Hulk , tanques são arremessados , helicópteros abatidos , nada é capaz de parar o Hulk , a não ser a linda da Jennifer Connelly.

Tendo noção da natureza fantástica do filme , Ang Lee faz de tudo para deixar o universo ambientado o mais palatável possível , todo a ciência do filme é exagerada sim , mas tudo consegue ser plausível , não temos coisas futurísticas , ate mesmo o laboratório de Banner é bem humilde com seus computadores que rodam windows ao invés de um Hal 9000. Isso também é demonstrado nas cenas de ação aonde poucos elementos em cenário são virtuais , ate porque o personagem principal do filme já é feito em CGI , isso só tornaria as coisas ainda menos criveis .Outro foco importante é o domínio que Lee mostra em conseguir construir uma tensão crescente de como o Dr Banner vai se transformar , algo que lembra ate os filmes de transformação física do mestre do horror sci/fi David Cronenberg .

O trabalho de montagem e edição do filme é inteligente , já que a equipe responsável pela tarefa tenta emular o splitscreen das paginas dos quadrinhos resultando em filme dinâmico em suas transições sem ficar cansativo já que todos os cortes são diferentes. A trilha de Danny Elfman que já havia feito a marcante música de Batman e Homem Aranha consegue passar a ideia de fascínio da descoberta cientifica , mas também pontua com acordes sombrios para evidenciar a ameaça que esta por vir .O fotografia de Frederick Elmes da um destaque importante para a cor verde reduzindo as outras cores em tela , com isso tudo fica mais bonito de se ver , no minimo um feito interessante.

Hulk é um filme injustiçado , talvez ate tenha sido bom que o filme não tenha agradado ao publico , já que desconsidero a sequencia comandada por Louis Terrier dispensável, é sempre bom ver um filme que investe mais no drama dos personagens do que nas cenas de ação , ate porque o Hulk é um personagem trágico em sua essência .

Hulk (2003)

Direção : Ang Lee 

Elenco :

Eric Bana - Bruce Banner 

Nick Nolte- David Banner 

Jennifer Connelly - Betty Ross

Sam Elliot - General Ross

Josh Lucas - Talbot

Fotografia: Frederick Elmes 

Screenplay : James Schamus , John Turman , Michael France

Música : Danny Elfman 

Produção : Avi Arad , Gale Anne Hurd , Kevin Feige