Star Wars: O Despertar da Força-Crítica


Sou um ouvinte assíduo do podcast melhores do mundo , e com certeza uma das discussões dos integrantes do programa semanal que acho mais divertida é raivinha deles com o diretor Zack Snyder , sendo que ele é um indivíduo que acredita no marketing dos produtores ao ser chamado de visionário e tem a arrogância de achar que pode melhorar o trabalho dos outros , isso aconteceu em 300 e Watchmen , mas com J.J Abrams é diferente , além de entender perfeitamente o material com que está trabalhando , Abrams é um fã assumido de Star Wars e um em momento algum ele quer ''melhorar '' a obra de George Lucas , O Despertar da Força funciona como um filme que aposta no saudosismo e ainda apresenta novos horizontes para um franquia extremamente rica em sua concepção .

A trama se passa 30 anos após os eventos de O Retorno de Jedi , o piloto Poe Dameron(Oscar Isaac) é enviado ao planeta Jakku pela general Leia ( Carrie Fisher) para obter o um mapa com a localização do então desaparecido Luke Skywalker , mas sua missão é comprometida quando Kylo Ren (Adam Driver) ataca o seu acampamento , sendo que o pequeno droide BB-8 consegue fugir com o mapa , durante o ataque o Stormtrooper FN-2187(John Boyega) deserta ao presenciar as terríveis ações da Primeira Ordem. A situação toma um rumo diferente quando a sucateira Rey(Daisy Ridley) encontra o droide BB-8 , que agora é um objeto de extrema importância para a resistência e para a Primeira Ordem.O roteiro do filme utiliza como base o episódio IV , como principal exemplo a presença de Han Solo que substitui Obi Wan Kenobi como o mentor dos personagens egressos na aventura , não que isso seja ruim , alias esse é um dos trunfos do filme que consegue equilibrar o novo com velho ao fazer referências aos elementos da trilogia clássica , claro que é um fan service , mas o lado positivo disso é que J.J Abrams não abandona seu estilo de direção conseguindo adicionar um ritmo frenético em boa parte do primeiro ato conseguindo prender a atenção ate de quem não é fã da série , e ainda sabendo usar o humor com inteligência ao brincar com os clichês do gênero como em um certo momento que um personagem é pego pelo vilão , o mocinho responde : Quem fala primeiro , eu ou você ? Ou na insistência de Finn ao sempre querer segurar a mão da Rey nas cenas de tiroteio , e ela mostrando que não precisa disso para resolver a situação , um grande avanço para o cinema exemplificando que mulheres podem sim ser protagonistas em filmes de ação.Outra assinatura de Abrams são os enquadramentos em plano holandês e o uso de flares que aqui se mostra mais contido servindo para tornar mais criveis os cenários renderizados em CGI .

Mas como sou chato , vou ter que apontar o mal uso do 3D , algo que com certeza deve ter sido imposição da Disney , já que Abrams utiliza o recurso Rack Focus , o que diminui e aumenta a profundidade de campo , sendo que no 3D já temos a noção de profundidade dos personagens e dos objetos de cena , ou seja Abrams dirigiu um filme 2D no formato 3D , por mais legal que seja os establising shots da Imperial Star Destroyer ou da Starkiller , eles soam apenas desnecessários já que não contribuem para a narrativa do filme.O mesmo já não pode ser dito sobre o design de produção , já que cada cenário serve para contar um  pouco dos personagens que habitam , outra escolha acertada dos roteiristas e do diretor é fato de que todas as locações se passam em ambientes sujos e isolados da civilização , cheios de mercenários , mendigos , ladrões e piratas , afinal temos que lembrar que Star Wars é um Western espacial , algo que gera um contraste interessante com as bases da Primeira Ordem , já que essas são sempre assépticas e organizadas o que evidencia um lugar mais avançado em termos de tecnologia .

Outro detalhe técnico que não pode deixar de ser mencionado é o design de som que consegue atualizar os famosos efeitos sonoros da franquia e ainda dar mais personalidade ao carismático droide BB-8 , mesmo não entendendo nada do que ele fala dá para compreender se o robô esta feliz , triste ou assustado com a situação ao seu redor ( a cena do joinha é excelente).A direção de elenco do filme é muito eficaz ao optar por atores desconhecidos do grande publico , algo que facilita a identidade visual e a construção de futuros personagens míticos , John Boyega corre , grita , chora e ainda nos faz rir , o mesmo pode ser dito sobre a novata Daisy Ridley que consegue interpretar Rey com segurança e carisma invejável. E Adam Driver na pele de Kylo Ren consegue ate ser imponente mesmo com sua aparência jovial e pouca ameaçadora , quem se sai de maneira formidável é Domhnall Gleeson que consegue emular o jeito dos militares engomados do filmes anteriores com seu General Hux , e que em momento algum demonstra medo perto de Kylo Ren , o que significa que ele também é importante para a Primeira Ordem.

Contando com vários acertos , um fator que enfraquece o desenrolar do filme é a montagem da embate final , um defeito recorrente na filmografia de J.J Abrams , os conflitos no terceiro ato acabam perdendo a importância já que o diretor esquece de mostrar a batalha aérea das X-Wings , e na luta dos sabres de luz ele corta demais e faz planos muito fechados dificultando a compreensão dos golpes , não chega a ser epilético como nos filmes da Michael Bay , mas atrapalha um pouco um confronto que poderia ter sido filmado de maneira melhor , ok que A Ameaça Fantasma não é um bom filme , mas o embate final entre Darth Maul e Obi Wan Kenobi é muito bem coreografado e Lucas filma tudo com planos mais abertos para que possamos entender a luta , enfim , um pequeno pecadilho do Abrams.

Mesmo sendo inferior ao Império Contra Ataca , O Despertar da Força é um filme imperdível para qualquer nerd veterano , um filme apaixonado em que cada frame e cada diálogo demonstram um enorme respeito à um dos universos mais criativos já feitos no cinema , feito por um fã  , para os fãs.

Star Wars : O Despertar da Força 4/5 estrelas

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