The Last Of Us Parte 2 - Crítica



Cuidado , spoilers.


Admito que com o passar do tempo eu perdi o interesse por videogame , não sei dizer ao certo se isso se deve ao fato de estarmos vivendo tempos pessimistas que nos assombram, ou se a indústria atingiu um patamar homogêneo aonde a maioria dos jogos AAA apostam no gênero de mundo aberto. Isso porque nem o último jogo da Naughty Dog me entusiasmou ,ao contrário , quanto mais eu reflito sobre Uncharted 4 menos eu gosto do jogo.Foi assim que me senti antes de jogar The Last Of Us 2 , que na minha mente não superaria o jogo anterior , mas o grande adjetivo dessa continuação é manter o alto padrão de narrativa e linguagem fazendo com que nos importemos com o destino dos personagens.

Um dos vários méritos de TLOU2 é justamente ser uma sequência lógica dos eventos do primeiro jogo , e sinceramente , ainda não entendi a raiva e indignação da comunidade gamer com o trágico fim de Joel .Aliás , Neil Druckmann e Halley Gross conseguem repetir o feito de escreverem uma entrada dramática para o jogo dando um choque no jogador ao nos fazer presenciar a cruel morte de Joel - justamente o personagem com quem nos afeiçoamos no episódio anterior, uma excelente sacada por parte da equipe de marketing ao esconder isso nos trailers , eu realmente pensei que Dina seria a vitima que iria desencadear a vingança de Ellie. E é assim que começamos a história,  4 anos após os eventos de TLOU1 acompanhamos Ellie em paz na pequena comunidade de Jackson , ao sair para uma ronda de inspeção , ela Joel e Tommy se deparam justamente com um grupo remanescente dos Vagalumes , o WLF , aonde conhecemos Abby , filha de um dos médicos que iriam operar Ellie . Após ser poupada pelo grupo , Ellie embarca em uma rampage de vingança contra Abby , mais uma vez enfrentando obstáculos , inimigos e infectados.

Se na maioria de jogos protagonizados por personagens femininas , essas são sexualizadas ao máximo , tendo em vista que o público gamer em sua grande maioria é dominado por homens , TLOU2 faz um trabalho admirável ao desconstruir a figura da mulher , Ellie talvez seja a primeira personagem gay controlável da indústria (não consigo me lembrar de outro jogo), e Abby vai na linha de Sarah Connor : musculosa , de cabelo amarrado , com discretos pelos na axila , bem longe de uma Lara Croft ou Jill Valentine. Da para perceber o compromisso dela em vingar o falecido pai morto de maneira covarde.Vingança alias é um dos grandes motes de TLOU2 , vingança e amor , já que todos os personagens são colocados em conflito pelo nível de relacionamento de cada um ,aqui representados por locações , o aquário por exemplo representa Abby e Owen , e o teatro Ellie e Dina , interessante perceber como o aquário inicialmente é apresentado como um lugar cheio de vida , próspero(é o ápice do namoro de Abby e Owen) , já quando os dois não estão bem , o aquário está coberto de gelo , uma interessante escolha de linguagem dos realizadores.

O gameplay agora esta muito bem polido , são inúmeras as animações de morte e personagens reagindo aos cenários , e se em jogos de terror , a violência fica restrita aos monstros e zumbis , em TLOU2 cada tiro tem um estrago diferente nos NPCs , seja humano ou infectado , são membros decepados e cabeças explodidas com um nível de detalhes assustador. As mecânicas permitem que o jogador crie seu próprio estilo de jogo , seja ele agressivo ou mais discreto

Contando com cenários mais amplos que flertam com um mundo aberto tirando a sensação de jogo linear , TLOU2 mantém a caprichada direção de arte com ambientes ricos em detalhes e histórias que foram deixadas para trás , da para sentir que pessoas viveram ali .Claro que tudo isso já havia sido feito no jogo anterior , mas aqui é ampliado graças ao hardware do PS4.

Mantendo um ritmo excelente no segmento de Ellie , é impressionante como as horas vão passando e e o jogador não tem vontade de parar de acompanhar a história , ritmo que infelizmente perde força no capitulo de Abby, logo a personagem que a principio seria vilã,  é humanizada e logo percebemos os motivos dela , fazendo ate eu querer torcer por ela e questionar os atos de Ellie. Mas os roteiristas acabam esticando demais a trama ,tornando o jogo um pouco longo , principalmente no momento em que encontramos Lev e Yara (teve hora em que eu realmente queria acabar com o jogo de uma vez).

TLOU 2 contem vários questionamentos que vão irritar jogadores conservadores , e que talvez seja esse o motivo de tanta divisão , uma pena , estarão deixando de apreciar uma obra provocadora que não poupa o jogador de momentos tensos , frustantes e que refletem no peso de cada ação tomada , tudo tem uma consequência e é esse o estigma que Ellie e Abby irão carregar para o resto de suas vidas .
The Last Of Us Part 2
(5/5 estrelas)










Damon Albarn e O Agora Agora



De novo uma banda em que sou suspeito para falar , faz tempo que sou fã dos trabalhos de Damon Albarn , desde o seu sucesso com Blur a projeto alternativos como The Good The Bad and The Queen , Albarn sempre se mostrou como um compositor dinâmico dono de uma facilidade imensa de escrever músicas ,  e mais uma vez vez fiquei surpreso quando anunciou que lançaria mais um álbum do Gorillaz (sendo que ano passado ele já havia trabalhado no Humanz) -projeto muito bem sucedido criado no final dos anos 90 aonde ele poderia extravasar o seu gosto eclético para música.


Reza a lenda que democracia não funciona em bandas , e em parte eu ate concorde com esse pensamento sendo que os melhores trabalhos de determinadas bandas são aqueles em que justamente seguiram a linha de pensamento de uma pessoa , algo que não aconteceu com Humanz , álbum que dividiu a crítica sendo atacado justamente por ser uma salada genérica de ritmos diferentes e ainda mostrando um Damon Albarn quase ausente nos vocais dando espaço para inúmeros músicos desconhecidos para o grande público . Entretanto , alguns apontaram o álbum como uma trilha sonora apocalíptica para um mundo pós Trump , em que sua força reside especificamente no arsenal de artistas convidados. Talvez , provavelmente incomodado com os comentários sobre Humanz , Albarn tenha lançado um álbum para agradar os fãs old school , ou como ele mesmo disse : ''é apenas uma desculpa para que eu possa fazer uma Tour pelo mundo''.

The Now Now talvez seja um retorno saudoso aos tempos de Demon Days , é aquele Gorillaz raiz que o povo da internet tanto gosta de falar , mas ao mesmo tempo possui algumas referencias as experimentações de Albarn em seu álbum solo Everyday Robots criando musicas atmosféricas como a curta e excelente One Percent , ou na hipnótica Idaho. E por que não um hit chiclete que faça o público pular nos shows ?! Então ficamos com Tranz , um synthpop que parece saído diretamente dos anos 80 , lembra ate Joy Division ou um New Order . E para fechar com chave de ouro , que tal Souk Eye ? Outra música que parece uma b-side de Everyday Robots , mas que ganha corpo conforme vai progredindo e rapidamente conquista o ouvinte .

Mesmo resgatando alguns sons dos trabalhos anteriores , Albarn consegue compor um disco conciso em que ao mesmo tempo em que mira para o futuro , não esquece o passado para não cair na armadilha de ser refém dos fãs , algo que já prejudicou muitos músicos que preferem se fechar e não expandir seu estilo musical.

Um álbum humilde que traz um Damon Albarn mais otimista em tempos de ódio e discriminação , é aquele trabalho que alegra o dia e que nos faz viajar por lugares distantes sem que usemos drogas psicotrópicas .



Dunkirk-Crítica


A construção de suspense nada mais é do que a sensação de não sabermos o que vai acontecer com o destino de certos personagens ou com o próprio desenrolar de uma história, isso faz com que uma tensão crescente tome conta do espectador , com isso , é uma pena que o cineasta Christopher Nolan tenha todos os recursos para construir um drama de sobrevivência no qual faz escolhas que acabam sabotando a almejada atmosfera de medo que ele queria criar. Dunkirk é um filme que se vende como uma guerra nunca vista antes , mas na verdade , tudo que Nolan faz aqui já havia sido realizado anteriormente pelo melhor diretor de ação de todos os tempos :Steven Spielberg.

A trama já tão conhecida por historiadores (mas desconhecida por mim) é o cenário perfeito para explorar as motivações humanas - cercados pelo exercito alemão , 400.000 soldados britânicos ficaram acuados em uma praia francesa  enquanto aguardavam resgate de seus superiores .Simples assim a trama, e já em seus primeiros minutos  Nolan mostra com eficácia a urgência da situação ao enfocar na fuga desesperada de jovens soldados sendo alvejados por um inimigo invisível , inimigo esse que fica ausente na maior parte tempo do filme , em momento algum as tropas nazistas são vistas de maneira clara , tudo fica subentendido , uma escolha interessante , porém ,apesar de concentrar seus 103 minutos de filme em uma corrida contra o tempo , Nolan opta por escolhas narrativas que acabam sacrificado o nosso envolvimento com os personagens. Dunkirk é povoado de personagens unidimensionais  que não possuem nomes , falas e nem personalidades , outra escolha claramente proposital do diretor que não queria dar importância para apenas um ou dois soldados , mas que infelizmente acaba sacrificando qualquer empatia que pudêssemos ter com qualquer um em tela , admito que fiquei apenas preocupado com o menino George , que acompanha Mark Rylance em seu barco , e por que fiquei preocupado ?Porque o jovem George é único que tem um certo background depois de um dialogo inserido em uma cena com o propósito de criar um drama nada eficaz.

Nolan se esquiva de diálogos desnecessários , algo tão criticado em seus filmes anteriores , mas insere personagens que servem apenas como ferramentas de roteiro para explicar a trama , afinal , Nolan tem que ter tudo sobre o seu controle .Ao filmar esse evento sem mostrar a real consequência dos tiros e explosões , fica difícil ter uma noção da ameaça que os cerca , um desserviço histórico  , usando uma catástrofe e a memoria de vários soldados mortos apenas para nosso entretenimento, afinal , que lição fica depois de tanto homicídio e tragedia ? Que catarse tivemos ?

Usando a trilha de Zimmer para prender a atenção em um clímax que nunca se justifica , Nolan prova que sabe muito bem conduzir montagens paralelas dividindo a ação nas três linhas temporais , apenas para que possam se realinhar cronologicamente, algo interessante diga-se de passagem , mas que na tela não surte o efeito desejado como já havia feito em A Origem .Mas temos que agradecer ao Nolan por fazer um uso excelente do modesto orçamento de 150 milhões , ao invés de inundar a tela com efeitos CGI , Nolan segue uma escola de cinema mais tradicional , aonde tudo era feito no mão , e ver os famosos Spitfire voando sobre um calmo oceano é de encher os olhos , sem falar nos inúmeros barcos que afundam durante a projeção; foi como Michael Mann disse uma vez : se dá para fazer de verdade , por que fazer de mentira ?!

Porem , sejamos sinceros , muitos estão apontando Dunkirk como uma obra prima , o melhor filme do Nolan , mas a verdade é que não há nada de novo nesse filme , Spielberg já havia feito um filme muito mais relevante e que sim , respeitava a história dos inúmeros soldados que morreram na segunda guerra mundial .O Resgate do Soldado Ryan já tinha utilizado efeitos visuais extremamente realistas para nos colocar no pior cenário possível , um filme que não celebrava a tragedia , mas sim a vitória de salvar uma vida, criando cenas tensas sem precisar usar trilha sonora , e ainda por cima fazendo um uso excelente da odiada câmera na mão , que adiciona um sensação de inquietude desesperadora.

Dunkirk é sim o tipo de filme que merece ser visto no cinema, Nolan nos proporciona uma experiencia sensorial  relevante , mas que infelizmente , não vai transcender com o tempo , devido a frieza do diretor de querer filmar com distancia um evento emocionante.
Dunkirk 3/5 Estrelas

Em Ritmo De Fuga- Crítica


Spoilers

Antes de mais nada , sou um grande fã do cineasta britânico Edgar Wright , homem responsável por filmes inventivos comandados com uma energia de adolescente , Wright é um daqueles diretores que sabe a oportunidade que tem ao fazer seus filmes , sendo assim  fiquei irritadíssimo quando fiquei sabendo que ele não iria mais dirigir O Homem Formiga , logo pensei : que desperdício de talento. Bem , mas aqui estamos nós , diante de Baby Driver , um filme original em meio à uma enxurrada de adaptações , reboots e continuações - e isso é algo bom? Claro que sim , queremos ser surpreendidos , mas com os panos quentes que coloquei no inicio do texto , é óbvio que não vou tecer apenas elogios de Baby Driver.

Baby(Ansel Elgort) é o motorista prodígio do chefão Doc(Kevin Spacey), um homem que seleciona assaltantes para os seus serviços sujos , como roubar bancos e carros fortes ,sendo que Baby é responsável por conduzir os bandidos para fora dos holofotes da policia dirigindo o mais hábil possivel ,  tudo no ritmo de sua playlist  sendo que o jovem usa música para fazer tudo , e ainda serve como tratamento para abafar o efeito colateral que teve após sofrer um acidente de carro com seus pais . Ansioso para se livrar do mundo crime , com o batida premissa de fazer um ultimo trabalho , Baby acaba se relacionando com uma garçonete local , na qual vai ter que lidar com sua vida ilícita ao mesmo tempo em que tenta manter o namoro com a moça.As coisas vão de mal a pior quando Doc o solicita para mais um assalto , e as suas ações não saem como planejado.A premissa é clichê ,e Wright sabe perfeitamente disso , como na cena em que Doc ameaça Baby , ao nem se esforçar para intimidar o rapaz , e assim ele vai se esquivando de algumas convenções para evitar que seu filme cai na mesmice , mas temos que bater palmas para Wright  que gasta boa parte do segundo ato estabelecendo a dinâmica  dos personagens  ,seja através dos figurinos , ou por meio do foreshadowing, muito bem colocado em algumas horas , e esquecido em outras , como por exemplo : por que Doc decide ajudar Baby no final do filme , sendo que baby estragou seus planos ?!Doc não hesitaria em mata-lo na primeira oportunidade de traição.Ou , um irritante deus ex machina , como no momento em que magicamente um Dodge Challenger aparece do nada , só para a trama não ficar parada.

São pequeno detalhes como esses que acabam enfraquecendo o brilho que Baby Driver oferece, e o que dizer das tais cenas de perseguição protagonizadas pelos carros ? Dá para ver que os dubles se empenharam para fazer manobras ousadas , mas que infelizmente , são filmadas de maneira confusa , em planos fechados , e cheios de cortes nervosos , dificultando o trabalho do espectador em entender a geografia das cenas. Algo triste , já evidenciado logo no inicio do filme , quando Baby da um cavalo de pau para dirigir de ré e passar entre dois caminhões, justamente no momento em que estamos prestes a ver a manobra , ele corte a cena . Fato é que a melhor perseguição do filme é uma cena a pé , em que Baby tem que fugir da policia atravessando vários obstáculos.Entretanto , não dá para reclamar tecnicamente do filme , Wright é um mestre em transições criativas , e aqui , ele ate se mantem mais contido , mas ainda nos brinda com tomadas belíssimas (a minha favorita é um simples farol se apagando), e no quesito montagem , toda a dramaturgia é muito bem conduzida , em momento algum ficamos entediados , algo primordial para torcemos para o casal principal .E ainda , todo esse desenvolvimento sendo costurado pela trilha sonora , que funciona de maneira narrativa ,ao ressaltar os sentimentos dos personagens , pena que não tenha uma música marcante , isso porque James Gunn também usou músicas desconhecidas do grande público em Guardiões da Galáxia , mas que contagiavam toda a projeção .

E falando no elenco , todo mundo foi escolhido a dedo , e a direção de atores é primorosa , ao escalar Ansel Elgort e Lily James , o diretor estabelece uma química invejável , algo extremamente necessária para que o público crie empatia por eles. Angel empresta o seu rosto jovial e desconhecido justamente por parecer um adolescente saído dos anos 50 (nunca vi um filme do rapaz ) , conduzindo toda sua atuação pelos olhos , seja em momentos de alegria , desespero e raiva. E Jamie Foxx encarna o garoto problema da equipe (um begbie mais instável)que consegue com sucesso passar uma inquietude enervante , só a sua presença já é o suficiente para causar um clima tenso em cena.

A verdade é que Baby Driver vale mais pelo o universo criado em torno dos personagens , do que pelas cenas de ação (a cena final é uma bagunça), e o final ainda deixa a desejar , já que Wright opta por caminhos diferentes de Fogo Contra Fogo e Drive , ambos, filmes ambientados no mundo crime , em que realmente , o crime não compensa.
Em Ritmo de Fuga 3.5/5 Estrelas

Homem Aranha: De Volta Ao Lar- Crítica


O que os inúmeros fãs da Marvel queriam finalmente aconteceu , Homem Aranha agora faz parte do universo estendido do produtora , claro que era um desafio complicado após o clássico filme de 2002 , habilmente dirigido por Sam Raimi ,que depois sofreu com a interferência de Avi Arad (produtor dos filmes na época) no terceiro episódio , e ainda com mais dois lamentáveis reboots que ficaram aquém do trabalho imaginativo de Raimi. Mas ,para nossa alegria , Homem Aranha De Volta ao Lar consegue entender muito bem a gênese do herói , e ainda apresenta problemas mais simples , porem , não menos ameaçadores .

Logo após os eventos de Guerra Civil , Peter Parker fica empolgado com a ideia de participar dos Vingadores , pena que Tony Stark , ciente da imaturidade do garoto , evita coloca-lo em ação , sabendo do potencial que o garoto representa para o segurança de New York , algo difícil de conter , afinal , Parker é um adolescente extremamente feliz com os seus poderes , e está doido para usa-los.A situação complica com o aparecimento de uma gangue liderada por Adrian Toomes (Michael Keaton), que roubou tecnologia alienígena chitauri , e a utiliza para desenvolver armas com imenso poder de fogo  restando a Parker impedir que esses assaltantes roubam a tecnologia Stark , sendo que nosso herói não pode esquecer de fazer o dever casa , estudar para as provas , dar satisfação para a tia May , ser aceito no colégio e lidar com meninas ; problemas mundanos , mas que servem para humanizar ainda mais o personagem órfão . E é aqui que o time de roteiristas acerta ao focar o filme inteiro na gênese do personagem , a tal da responsabilidade , as inúmeras tarefas que o Aranha tem que lidar durante o filme é a prova de fogo que ele tem que passar , seja abdicando de uma festa da garota que gosta  , ou abandonando um campeonato da escola. Tom Holland funciona muito bem na proposta do filme , fazendo o Peter Parker como um nerd inseguro , e o Homem Aranha brincalhão , atônito com os seus poderes , e que as vezes emula ate um voz tremula , tamanha a insegurança do rapaz , totalmente diferente do nerd popular  de Andrew Garfield.

Mas quem brilha mesmo é Keaton , que de longe faz o melhor vilão da Marvel ate agora , sem tornar o abutre em uma figura unidimensional , seu personagem tem propósitos claros  , e é interessante como os roteiristas respeitam sua criação ao mostrar que ele é apenas um pai de família que tenta ganhar a vida de maneira ilícita claro , mas sempre pensando em seus entes queridos - isso , sem deixar de aparecer ameaçador , como na cena do carro , o ponto alto do filme.E ainda bem que souberam dosar o Robert Downey Jr durante o decorrer do filme , algo que a campanha de marketing martelou bastante , seu personagem alias , funciona como um substituto da figura paterna , já que o filme não tem o Ben Parker , e a cena do barco se torna um exemplo perfeito para sacramentar todo a ideia central que o filme discute .

De resto , o diretor Jon Watts comete os tropeços habituais de alguns filmes do gênero: cenas de ação dispensáveis , fotografia nada expressiva (algo recorrente nos filmes da Marvel), algumas piadas inspiradas , outras nem tanto , e o uso excessivo de CGI , atrapalhando ate as cenas em live action. E mais uma vez , o genial Michael Giacchino , lotado de trabalho para fazer , compõe uma trilha genérica , que não sobrevive alem do filme , sendo o único mérito ter feito uma releitura do tema da série de TV animada(Danny Elfman continua insuperável), isso porque no ano passado o compositor  assinou trilhas de inúmeros filmes(Star Trek Beyond , Zootopia , Star Wars Rogue One , Doutor Estranho) fica difícil oferecer algo novo.

Se o Homem Aranha não fizesse parte do universo cinematográfico da Marvel , certamente seria um filme dispensável -sim , é um filme divertido , mas não é tipo de filme que sobrevive ate o termino dos créditos finais.
Homem Aranha  De Volta Ao Lar - 3.5/5 estrelas

Mulher Maravilha-Crítica


A DC estava em maus lençóis , Homem de Aço era um filme interessante , mas não fazia jus ao histórico do personagem , e para piorar , acabou sendo ofuscado em uma continuação que acabou dando mais destaque para o popular homem morcego - e qual o seria o problema disso ? É fácil culpar Zack Snyder , diretor dono de um apuro estético único , mas que se preocupa mais em criar momentos do que desenvolver a jornada ate essas cenas ; e o que falar do roteiro confuso de David Goyer e Chris Terrio ?Faltou alguém que realmente entendesse a ideologia dos personagens , algo que acabou ofendendo os fãs mais puristas que não queriam ver os seus heróis serem desconstruidos em tela , algo que o Snyder tentou fazer em Watchmen, sendo assim porquê criar expectativas para assistir Mulher Maravilha depois da bomba que foi o Esquadrão Suicida ?!Mas vamos lá , magoas passadas , e seguindo a regra de nunca criar expectativas , Mulher Maravilha é o filme que os fãs da DC merecem , respeita a personagem e o público.

A aventura começa em Temiscera , terra das guerreiras amazonas , que dedicam seus dias aos treinos incessantes para uma guerra que possa acontecer , assim somos apresentados a pequena princesa Diana , que desde criança já mostra ter um ímpeto de nobreza e honra ao querer defender seus valores culturais.O ponto de partida é a chegada do espião britânico Steve Trevor (Chris Pine) que acidentalmente cai na ilha sendo resgatado por Diana , sendo que ele estava sendo perseguido pelo exercito alemão mostrando um pouco do conflito que assola a Europa e deixando ela com sede por vingança (Antiope é morta por um dos soldados alemães) e ainda tendo como missão derrotar Ares , Deus da Guerra , já que na lógica da personagem , se ela derrotar Ares , isso dará fim em todas as guerras.Se em BvS e MoS a pressa para jogar o publico em cenas de ação era nítida , em Mulher Maravilha , Patty Jenkins constrói aos poucos o relacionamento dos personagens , nos mostrando o cotidiano das amazonas e a cultura delas , nada de subtramas , aqui a história é desenvolvida da maneira mais simples , algo que Richard Donner já havia feito em Superman , e que cai como uma luva para um filme de origem, afinal , Diana acredita sim no amor e no valor da vida , sua ingenuidade é cativante , o que acaba rendendo as melhores piadas do filme envolvendo o choque de cultura quando a personagem título começa a conhecer o mundo dos homens , algo que foi desperdiçado no filme solo do Thor .

Jenkins também faz escolhas narrativas óbvias , mas que alguns diretores parecem esquecer , basta reparar em como a fotografia muda de Temiscera para Londres , na primeiro as cores são lindas , dá vontade de morar na terra das amazonas com aquele maravilhoso visual praiano , já Londres é feia, suja e fria , o contraste fica nítido. E as cenas de ação ?!Repletas de energia , abusando um pouco da câmera lenta , mas que servem apenas para mostrar as proezas invejáveis das guerreiras amazonas , isso sem falar em toda a construção das cenas , nada é gratuito , tudo esta em seu devido lugar , é excelente como a personagem durante sua jornada vai crescendo e se tornando uma heroína de verdade , sem dúvida, um fator determinante que difere Mulher Maravilha dos filmes anteriores do universo expandido da DC.

Se a escolha da Gal Gadot gerou dúvidas ou ate mesmo o ódio de inúmeros fãs pela internet , podem ficar tranquilos , a atriz israelita cumpre bem o papel de heroína de ação conseguindo exibir vigor físico sem perder a feminilidade , e ainda desempenhado uma ótima química com Chris Pine , um ator que reconheço , foi um desperdício utiliza-lo aqui , ele facilmente poderia ser o lanterna verde. Bem , admito que os vilões do filme são bem medianos e unidimensionais , e os atores tem pouco a fazer em tela, Danny Huston sempre dá azar com esses tipos de escalações , e personagem de David Thewlis é bem ingênuo ao revelar para a heroína como ele pode ser derrotado .

Alguns vão reclamar do exagerado terceiro ato , mas isso é fácil de explicar , ate porque , se na ultima vez em que um filme da DC optou por ser mais simples , como aconteceu em Superman Returns , aonde o clímax final era o super levantando um pedra gigante , todo mundo reclamou , já que a plateia queria ver porrada. Sim , Mulher Maravilha pode ter seus defeitos , algo que veio da era Snyder ao utilizar os personagens como armas de destruição , mas Jenkins entende muito bem o conceito de herói , e consegue finalmente oferecer um filme protagonizado por uma mulher que se tornará relevante para a cultura pop e ficara marcado para sempre , assim como Christopher Reeve marcou o cinema em 1978.

Mulher Maravilha -4.5/5 Estrelas 


Lego Batman: Crítica


Sempre fui um fã dos brinquedos lego , lembro me perfeitamente de quando ganhei um pela primeira vez , e fiquei imensamente feliz quando soube que haveria filmes animados baseados nas licenças que a empresa de pecinhas de montar possui- Lego Batman a primeira vista pode parecer um filme desnecessário no cenário atual aonde pelos menos 5 ou 6 filme de super-heróis são lançados por ano ,porém o filme consegue mostrar que com a equipe correta , o resultado pode ser fabuloso , mesmo com o seu visual infantil , mas extremamente detalhado , em muitas cenas , a impressão que fica é a de estarmos assistindo um trabalho em stop motion , as peças são leves como deveriam ser , e acabam sendo mais expressivas que muito ator por aí.

Na trama, Barbara Gordon(Rosario Dawson) assume o posto de comissária da cidade de Gotham , e mostrando sua eficiência começa a questionar se as ações de Batman(Will Arnett) são mesmo benéficas para a cidade ,afinal , Batman nunca prende ninguém , e os crimes persistem com índices altíssimos , aproveitando a deixa , Coringa(Zach Galifianakis) se rende para poder executar mais um de seus planos malignos , enquanto isso , Batman tem que se acostumar com ideia de não ser mais o centro das atenções da cidade , e ainda lidar com o pequeno pupilo Dick Grayson(Michael Cera). Egocêntrico ,narcisista , egoísta, mas também no fundo , um homem amargurado e solitário que não consegue lidar com a perda dos pais e tem medo de se relacionar com qualquer pessoa , esse é o retrato que os roteiristas pitam de Bruce Wayne em Lego Batman , um filme que realmente gira em torno do personagem , e mostra esse lado esquecido nas obras anteriores do morcegão, claro que Nolan já havia humanizado o personagem em sua trilogia, mas aqui sua persona ganha novos contornos que abrem brechas para inúmeras piadas repletas de energia que referenciam todo o bat-universo , os vilões mais inusitados aparecem em tela , isso sem contar com os já necessários easter eggs e fan services que todo mundo espera.

As piadas vão além, ao zoarem com a seriedade e o tom sombrio, isso logo em seus minutos iniciais, quem entender vai achar hilário (admito que minhas bochechas já estavam doendo de tanto rir). Não posso falar nada a respeito do trabalho dos atores que deram vozes aos personagens, mas posso comentar o trabalho estupendo de Guilherme Briggs na direção de dublagem, ok, não gostei muito do Batman carioca malandro com seu vocabulário cheio de gírias, mas pelo menos a voz rouca vez jus a de Will Arnett, o que rende um monte de diálogos regionalizados.

A direção de arte e o design de produção são incríveis, é como se estivéssemos vendo uma enorme brincadeira de criança sem limites de orçamento, são inúmeros setpieces, tudo feito com base nas pecinhas lego, o que desperta ainda mais a nossa curiosidade, e claro, serve como veículo perfeito de merchandising, realmente dá vontade de comprar os brinquedos. E o que dizer da trilha composta por Lorne Balfe, um dos aprendizes de Hans Zimmer, que consegue emular a música industrial com direito a muito instrumento de percussão e aqueles violoncelos nervosos que ficaram característicos na trilogia Nolan?!

Lego Batman é um filme cheio de coração, que consegue agradar tanto os pais quanto os pequenos, é um trabalho inventivo que respeita a plateia e consegue ir além da óbvia propaganda para vender brinquedos, ao contrário de Transformers.


Lego Batman 5/5 estrelas